Escrito por Enilce Leite Melo economista e voluntária do Greenpeace Rio de Janeiro.
No último sábado, dia 28/6, tive o enorme prazer de participar da inauguração das placas solares, instaladas em uma casa do Quilombo do Grotão, na Serra de Tiririca, Engenho do Mato – Niterói. Foi uma belíssima cerimônia, onde pude observar a união entre um consistente trabalho ambiental, com disseminação de tecnologia e conscientização sobre a viabilidade do uso da energia solar, e a resistência de uma comunidade quilombola, com preservação da cultura negra – por meio do artesanato, música e culinária.
Vale dizer que sou voluntária do Greenpeace no Rio de Janeiro há pouco mais de um ano e fiquei absolutamente encantada com o trabalho efetuado pela Vânia Stolze junto ao Greenpeace no Morro dos Macacos, em Vila Izabel, que, por sábados seguidos em 2013, coordenou uma equipe de voluntários do Greenpeace Rio, em absoluta sincronia e parceriacom a comunidade, onde foram estabelecidos laços permanentes de amizade e troca.
Apesar de ter visto o projeto nascer, não tive, por motivos absolutamente pessoais, condições de ajudar o desenvolvimento do trabalho. Quase sem que eu percebesse o passar do tempo, o trabalho foi concluído e, em um belo dia, estava eu no Morro dos Macacos, em uma atividade de replantio de árvores, em um ritual de consolidação e finalização do projeto. Pude testemunhar, além da instalação dasplacas solares, algo que é mais sutil, e nem sempre fácil de identificar em uma única visita – o treinamento e o engajamento de jovens da comunidade com a questão ambiental e a realização de um trabalho voluntário e cooperativo, sem distinção de cor ou de classe social, com a semente de uma inserção econômica futura para alguns daqueles rapazes, que pouco mais tarde participariam do novo projeto solar, no Quilombo, proporcionando um outro benefício – a integração de comunidades tão distantes, ainda que com as mesmas raízes. Vi um dos meninos do Morro dos Macacos se surpreender com a sua falta de habilidade para sambar, ao ser contrastado com a integridade da sua própria cultura.
Com esse legado, quando soube que seria realizado o projeto solar no Quilombo do Grotão, tive a certeza de que não poderia perder a chance de contribuir. Mais uma vez, não teria tempo, já sabia, mas tinha outros recursos e resolvi me tornar uma colaboradora do projeto, ajudar a buscar outros colaboradores e formas de divulgar a energia solar, que se viabilizou pelo financiamento coletivo – uma grata novidade pra mim. Desta vez, consegui participar de uma atividade de engajamento público no Recreio dos Bandeirantes, onde passamos todo o domingo mostrando a viabilidade da geração domiciliar de energia solar no Brasil, seja regulatória ou tecnológica, com o acervo de produtos alimentados por energia solar, cedido pela Vânia.
Tendo conhecido o trabalho no Morro dos Macacos, não pensei duas vezes ao fazer minha doação e estimular outros a fazerem.E neste processotive outra grata surpresa- comecei a receber e-mails relatando o passo a passo do projeto, as etapas previstas, as reuniões com entidades e órgãos governamentais,a exposição na mídia e, finalmente, a prestação de conta dos recursos utilizados. Me senti, talvez pela primeira vez,participando de algo que me parecia uma alternativa real para minimizar o impacto ambiental, de aumentar a eficiência energética do país e ao mesmo tempo dedemocratizar e promover a integração econômico-social. Me senti parte do projeto e, de alguma forma, responsável por ele, sem nunca ter ido ao Quilombo, senão na inauguração.
Diante desta vivência, não tenho dúvidas sobre a importância de se multiplicarem projetos desta natureza pelo estado e pelo país, e uma forte convicção da necessidade de se promover uma atuação incansável junto aos órgãos reguladores e as distribuidoras de energia para que o tema seja tratado com a prioridade que merece. A pavimentação deste caminho ajudaria a potencializaros resultados e evitar o desperdício dos recursos e da energia empregados.